Seja bem-vindo(a) à série de artigos no site da Skop. São entrevistas com especialistas em diversos assuntos, para abordarmos, com mais eficiência, questões importantes para o nosso dia a dia.
Neste bate-papo, conversamos com o engenheiro Cícero Humberto Aidar, gerente Global da Área de L&D (Learn and Development) do departamento de engenharia de riscos da Chubb. Conversaremos sobre um tema muito importante e de pouco destaque no cenário brasileiro: a educação continuada para profissionais de Sistemas de Proteção Contra Incêndios (SPCI). Continue a leitura e confira!
Pergunta 1: Sabemos que a educação é uma ferramenta estratégica para nações, instituições, empresas e para a sociedade como um todo. Falando de educação no ramo de prevenção ao incêndio, como você posiciona esse assunto no Brasil e nos EUA, onde você reside atualmente?
Resposta: Concordo inteiramente sobre a importância da educação de modo geral. Agora, falando especificamente sobre a proteção contra incêndios, infelizmente, vivemos cenários diferentes nos países citados.
No Brasil, há uma grande falta de cursos formais de graduação e pós-graduação sobre o assunto. O que temos de ensino é fruto do trabalho de poucas pessoas que são profissionais do ramo e da academia. Não existe uma regulamentação firme! A carreira do engenheiro de segurança do trabalho ou técnico de segurança aborda o tema de forma superficial, sem devido respaldo técnico. A ciência é tudo também nessa área. Até podemos discutir sobre normas e regulamentações que variam de país para país. Porém, o fogo que queima em solo brasileiro é o mesmo em qualquer lugar no mundo. Ou seja, para saber de proteção contra incêndio, devemos estudar a ciência por trás dos códigos.
Tenho confiança para afirmar que a principal diferença entre os EUA e o Brasil é a importância e seriedade que eles dão a esse assunto. Por exemplo, no país norte-americano, a situação é bem diferente. Começando pela existência de carreiras como: engenheiro de proteção contra incêndios (Fire Protection Engineer) e gestor de riscos (Risk Management). Além de uma variedade de cursos de pós-graduação relacionados ao assunto. Ainda, o registro profissional de engenheiro (PE – Professional Engineer) exige cursos de atualização constante, com certa quantidade de horas de aula e comprovação de conhecimento.
Pergunta 2: Então, qual seria uma boa proposta de currículo e estrutura educacional para o nosso setor? Considerando as visões de projeto, instalação, equipamentos e manutenção, por um lado, e a variedade de público e operadores do outro: investidor, arquiteto, projetistas, construtores, gestores, bombeiros, seguradoras, instaladores, revendedores de produtos e fabricantes.
Resposta: Acredito que um bom currículo não precisa ser criado do zero. Nos EUA já existem bons cursos de graduação, esses podem ser derivados para áreas técnicas ― níveis profissionalizantes ― e acadêmicas ― níveis de mestrado e doutorado. Eles deveriam ser adotados no Brasil. Afinal, a ciência é a mesma! Claro que alguns detalhes variam, mas a base do conhecimento é igual e devem ser de domínio do profissional que deseja se formar nessa área.
Destaco que há material para todos os patamares de conhecimento e a riqueza desse conteúdo é quase infinita. Posso citar temas simples, como a mudança de um tipo de embalagem que pode comprometer todo o sistema de sprinklers, até assuntos mais complexos como:
- proteção ao meio-ambiente (conservação de água, controle de descarga de água de combate a incêndio);
- hidrodinâmica para os cálculos de sistemas;
- gestão integrada de manutenção;
- reações de combustão;
- triângulo do fogo.
Acho que faltam apenas duas coisas para mudarmos a realidade brasileira. Primeiro, é a criação de especializações na área. A segunda é que as autoridades exijam a formação de profissionais gabaritados para assinar responsabilidades técnicas em sistemas de proteção de vidas e propriedades.
Pergunta 3: Como você enxerga o impacto crescente do home office no mundo, que gera uma nova forma de ocupar os antigos espaços, e a adequação das pessoas aos riscos trazidos do escritório formal (ou da escola) para dentro de casa?
Resposta: O home office sempre foi uma realidade, tanto que eu já fazia trabalhos remotos desde o início da minha carreira, nos anos 1990. Claro que hoje, com a internet mais veloz, melhor aproveitamento do tempo e diversas opções para melhorar a qualidade de vida, essa forma de jornada é bem diferente. Porém, há um ponto de vista que devemos nos preocupar! É a necessidade de adequar o ambiente novo às exigências de um escritório formal.
A mudança para casa pode gerar aglomerações não esperadas de arquivos, móveis, materiais de escritórios, uso de dispositivos eletrônicos. Todos são fatores que aumentam o risco de incêndio, se comparado à antiga realidade. Também, há aumento do uso da rede elétrica e isso implica em ameaça de sobrecarga elétrica, aumentando as possibilidades de falhas e a geração de curtos-circuitos. Então, se os cuidados necessários não forem tomados, poderá ter mais chances de acidente com fogo.
E não só o home office aumenta esse risco. Com a pandemia, as escolas foram forçadas a deixarem seus alunos em casa, do dia para a noite, sem um projeto cuidadoso e estudado. Essa foi a realidade de alguns países em desenvolvimento como o Brasil, onde as escolas não contam com estrutura digital, a instabilidade de conexão de internet nas casas, velocidade de amplitude de banda, entre outras questões. Então, esses pontos também acabam aumentando o risco de incêndio nas residências.
Pergunta 4: Como você enxerga a evolução e a contribuição das mídias/canais de internet e 5G no processo educacional de prevenção ao incêndio?
Resposta: Vejo como uma evolução gigantesca, principalmente, com o advento da pandemia. Mesmo aqueles que estavam despreparados, tiveram que se reinventar para entregar o conhecimento às pessoas. Muitos profissionais conseguiram entregar mais do que se esperava. Bom, a criatividade humana é algo indiscutível e a capacidade de encontrar oportunidades em crise, também. Mas não há entrega sem um meio. Nesse caso, canais de internet, redes sólidas de Wi-Fi ou de telefonia celular de dados (4G e 5G) são fundamentais para permitir essa iniciativa.
Voltando à visão para a ciência de prevenção e proteção contra incêndios, a Chubb vem investindo bastante no seu novo Centro de Engenharia de Riscos (CREC – Chubb Risk Engineering Center). Inclusive, contando com um sistema audiovisual que é o estado da arte, para permitir treinamentos de profissionais da instituição, clientes assegurados, parceiros (corretores e agentes) e comunidades em geral. As capacitações são oferecidas em vários idiomas, a partir dos EUA, para o mundo inteiro. Porém, novamente, de nada adianta nosso sistema de última geração, se na ponta do usuário a conexão não for da mesma qualidade.
Pergunta 5: Qual a importância da educação dos públicos citados anteriormente na compreensão dos processos que relacionam as normas técnicas com as legislações sobre projeto, instalação, produto e manutenção?
Resposta: Reforço que educação é tudo! É a solução para todos os problemas. Para mim, a ciência, quando dominada e digerida, faz com que as normas sejam utilizadas por conhecimento, muito mais do que por legislação.
Uma analogia que posso fazer é a utilização do cinto de segurança nos automóveis. Num primeiro momento, por desconhecimento, as pessoas utilizavam por ser lei. Hoje, não acredito que o cinto seja utilizado somente pelo fato da existência das multas.
Uma vez que a educação seja incluída na vida das pessoas, a proteção contra incêndios deixará de ser uma obrigação relativa a leis. Ela passará a ser uma exigência natural para salvaguardar a vida e as propriedades das pessoas.
Sobre o entrevistado:
Cícero Humberto Aidar é gerente Global da Área de L&D (Learn and Development) do departamento de engenharia de riscos da Chubb. Possui mais de 20 anos de experiência em seguros e engenharia de riscos, com especialidade para a área de gerenciamento de riscos de responsabilidade civil e de danos às propriedades.
- Formado e pós-graduado em Engenharia Metalúrgica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
- Especialista em Segurança do Trabalho.
- MBA em Gestão de novos negócios envolvendo produtos e serviços.
- Membro da NFPA e do GSI/NUTAU/USP.
Somos uma Empresa prestadora de Serviços de Inspeções prévias para Seguradoras.
Nosso foco sempre foi o de investir no treinamento e conhecimento dos inspetores.
Para tanto, utilizamos as ferramentas disponíveis tais como: Cursos técnicos (Fundabom, Escola Nacional De Seguros e Instituto Yep), bem como sites, cursos e palestras disponíveis na Internet(Instituto Sprinklers e SPK).
Sabemos que o inspetor tem que ser um profissional bastante qualificado, pois hoje se exige conhecimentos nas áreas de Técnica de Seguros, Conhecimento de Responsabilidade Civil, Engenharia de Segurança (aborda tanto meios de prevenção e combate á incêndios (abrangendo normas Nacionais e Internacionais), quanto aspectos relacionados Gerenciamento de risco, plano de emergência e contingência, plano de continuidade e analise do negócio que esta sendo proposto o Seguro).
Por isso mesmo o nosso Ramo – Seguros, não é para amadores.
Claudemiro Vidal
Éthica Empresarial