Seja bem-vindo(a) a mais um conteúdo de entrevista da Skop. Nessa série, trazemos convidados especialistas para explicarem com mais eficiência sobre questões importantes para o nosso dia a dia.
Neste segundo conteúdo, conversamos com o Engenheiro Eletrônico formado pela PUC-RIO, Jonas Pachciarek Roter, e sócio da Skop. Jonas foi Diretor Presidente da Associação Brasileira de Sprinklers (ABSpk) entre 2013 e 2015.
Além disso, ele possui 33 anos de experiência no setor de incêndios e reside nos Estados Unidos há 5 anos. Essa experiência, fez com que Jonas tivesse uma nova visão sobre a realidade do uso dos sprinklers no Brasil e do uso dos sprinklers residenciais nos EUA. Para entender melhor sobre essa diferença e conferir outros detalhes, leia o conteúdo até o final.
TEMA 1 – Sprinklers residenciais nos EUA: uma realidade cotidiana.
Pergunta 1: Sabemos que nos EUA sprinklers são amplamente utilizados para proteção de incêndios. Desde quando e por que este tipo de proteção começou a ser utilizada lá? Há algum tipo de ocupação que ainda está desassistida no Brasil?
Jonas: Sim, no Brasil, as ocupações residenciais ainda não fazem o uso dos sprinklers. Já no caso dos EUA, a primeira patente norte americana de um sistema de sprinklers é de 1872, porém o sistema mais difundido foi o projetado por Parmelle e patenteado em 1874.
Os primeiros sistemas atuaram na proteção de indústrias, mas com o passar do tempo expandiram-se para várias outras ocupações, chegando aos mais variados ambientes, inclusive às residências. A primeira versão da Norma NFPA501, que trata de segurança contra incêndio em residências pré-fabricadas, foi editada em 1997.
Essa Norma já passou por oito revisões, sendo a última em 2017. Mesmo com o aparato normativo, há informativos da NFPA que registram que entre 2014 e 2018 ocorreram, em média anual, 2.480 mortes, 9.110 lesões e cerca de 7,7 bilhões de dólares de prejuízo financeiro, causadas apenas pelas cinco principais causas de incêndio em residências: preparo de alimentos, falhas em equipamentos de aquecimentos, problemas elétricos, incêndio intencional e relacionados ao hábito de fumar. Curiosamente, este último, relacionado ao fumo, ocorreu menos que os demais, porém causou mais mortes que qualquer um outro.
Pergunta 2: E nesse tipo de ocupação se utilizam os mesmos tipos e modelos de sprinklers que já conhecemos?
Jonas: De forma alguma. Em ambientes residenciais podemos ter alguém não preparado para uma eventual fuga, então foram desenvolvidos modelos capazes de jogar mais água na direção do teto e paredes. Isso evita possíveis colapsos e garante mais tempo para que todos fujam.
Pergunta 3: Mas as normas e legislações existentes já preveem este tipo de utilização?
Jonas: Aqui nos EUA, sim. A National Fire Protection Association (NFPA) conta com um enorme leque de normas que já incluem, por exemplo, o uso em residências em suas normas NFPA 501 e 501A. Até o momento o Brasil ainda não conta com normas ou legislações específicas para sprinklers residenciais, mas considerando que a ABNT já conta com um grupo muito ativo no desenvolvimento e atualização de normas, acredito que esse ‘buraco’ possa ser preenchido muito rapidamente.
TEMA 2 – Realidade antecipada: as mudanças promovidas pela pandemia.
Pergunta 4: Será que essa proteção é necessária no Brasil, visto que as residências aqui raramente têm sistemas de aquecimento ou são construídas com madeira, como ocorre nos EUA?
JR: Sim. De fato, apenas algumas regiões do Brasil realmente precisam de sistemas de aquecimento. Mas, por outro lado, as residências brasileiras estão repletas de riscos que não são tão comuns nos EUA, tais como: utilização de gás de cozinha, instalações elétricas fora de padrão, isolamentos térmicos muitas vezes inapropriados — isopor ou madeira usados na confecção de lajes, rebaixamento de tetos em PVC ou madeira sem tratamento adequado.
Temos ainda a grande presença aparelhos de ar condicionado individuais (‘de parede’), o que, vez por outra, é identificado como provável foco do incêndio. Temos na história recente do Rio de Janeiro a tragédia ocorrida no Centro de Treinamento do time do Flamengo. Infelizmente, o Brasil não conta ainda com estatísticas completas, mas veja que sempre que o assunto “fogo em casa” vem à tona em conversas de amigos, há ao menos uma pessoa próxima de nós que descreverá um incidente de incêndio doméstico envolvendo algum amigo, conhecido ou familiar, frigideira pegando fogo ou curto-circuito.
Pergunta 5: O ano de 2020 foi marcado por uma pandemia a nível mundial. Você enxerga alguma mudança de hábitos que justificaria uma aceleração na adoção de proteções residências?
Jonas: Sim, claro. Com a rápida adoção do modelo “home office” por um número antes inimaginável de pessoas, temos agora um volume muito maior de equipamentos elétricos conectados, além do número de pessoas presentes no ambiente, implicando em uso adicional de ar condicionado, cozinha e outros ambientes.
Vale também lembrar que além dos riscos semelhantes aos de um escritório ou área comercial, as residências contam ainda com toda a questão do patrimônio pessoal e familiar. Isso faz com que o m² sendo protegido em áreas residenciais tenha um valor total superior ao comercial. Acredito que esses são fatores que promoverão a aceleração da adoção deste tipo de proteção no Brasil. Portanto, provavelmente, entre 5 a 10 anos já estejamos vendo a tecnologia de sprinkler amplamente instalada também em áreas residenciais no país.
TEMA 3 – Soluções futuras para a proteção residencial no Brasil: impactos no setor de combate ao incêndio.
Pergunta 6: As normas e legislações atuais poderiam ser adaptadas para incluir a proteção por sprinklers residenciais?
Jonas: Apesar de serem ocupações com quesitos totalmente diferentes, as principais Normas brasileiras da área: ABNT NBR10897 — Projeto e instalação de sistemas de sprinklers — e a ABNT NBR16400 — Requisito de ensaios de sprinklers —, poderão, sim, ser adaptadas para atender a demanda de certificação, projeto e instalação de sprinklers para residências já que nas suas últimas revisões já estão incluídos critérios para sprinklers com fatores K menores, ou seja, entre K20 e K60.
Pergunta 7: Quais seriam os primeiros passos para alcançar estes objetivos de aumentar a segurança de incêndio também em residências?
Jonas: Minha sugestão seria iniciar através da implantação de um comitê específico dentro do CB24, que analisaria justamente as alterações necessárias seguido da preparação das normas que serão futuramente utilizadas para ajustes nas legislações locais, capacitação de projetistas e corpos de bombeiros.
É um projeto similar ao já executado por este mesmo grupo há alguns anos atrás em que, em pouco tempo, todas as normas vigentes foram revistas, atualizadas e aprimoradas. Porém, este processo, não ocorrerá sem a devida conscientização dos demais agentes do mercado de incêndio, especialmente: Corpos de Bombeiros, arquitetos e projetistas, que são aqueles que, em geral, são os responsáveis por introduzir novos conceitos de proteção.
Pergunta 8: Qual Seria sua mensagem final para os nossos leitores?
Jonas: Agradeço a oportunidade e aproveito para ressaltar que a questão da proteção residencial, que, diante da adoção gradual do “home office” e acelerada pela pandemia de 2020, representa tanto um aumento na proteção das famílias como um aquecimento do mercado de proteção contra incêndio. A Skop está prestes a lançar seu terceiro e-book onde esse e outros temas foram estudados com maior profundidade e onde traremos a nossa visão de futuro aliada às análises técnicas dos novos riscos. Vale conferir!