Seja bem-vindo(a) à série de artigos no site da Skop. São entrevistas com pessoas especialistas em diversos assuntos, para abordarmos, com mais eficiência, questões importantes para o nosso dia a dia.
Neste primeiro bate-papo, conversamos com o arquiteto João Pedro Backheuser*, fundador da B|AC Arquitetura. Discutimos sobre o impacto do crescimento do home office nos escritórios, coworkings e na arquitetura urbana. Continue a leitura para conferir!
Resposta: Primeiramente, a arquitetura, não só a urbana, vêm se transformando o tempo todo. Assim como a sociedade! As cidades, na verdade, são projetos inacabados que estão sempre se construindo e reconstruindo. Por exemplo, quando visitamos uma localidade antiga, vemos ruelas e becos, porque as pessoas só andavam a pé. Depois, os cidadãos começaram a se transportar a cavalo, de carro, e as ruas foram se adaptando. Isso é um processo contínuo.
Agora, estamos na era do digital e, certamente, isso já está remodelando o desenho urbano, de moradia, de trabalho, lazer, entre outros.
Resposta: Bom, não sou um especialista em tecnologia, mas, como falei, vejo muita ação que possibilita uma melhor gestão de cidades, principalmente, em torno de controle e privacidade. Tanto que, a coleção de dados, da velocidade da informação, do real time, permite, inclusive, um entendimento sobre os hábitos da população.
Com as inovações, é possível compreender melhor o fluxo de indivíduos, do dinheiro, dos carros. Lembro de um projeto meu, o Boulevard Olímpico, no Rio de Janeiro, criado para as Olimpíadas de 2016. Na inauguração, o espaço ficou lotado! Foi divulgado que passaram por lá mais de 1,5 milhões de pessoas. E essa leitura era feita por meio do IP dos celulares de quem visitava o local.
Então, vejo que todos os recursos tecnológicos ajudam a gerir melhor os municípios. Por esses dados, é possível entender a mobilidade, destinar recursos para um ou outro setor. Tudo isso, também, é reflexo das mudanças em como estamos nos relacionando. Hoje, tudo é nas telas, no digital. A cidade, nada mais é que um espaço para relacionamento, onde você encontra outros cidadãos, troca informações e experiências. Então, sim! Haverá um impacto bem grande.
Resposta: São muitos, mas, vejo 3 pontos como os mais importantes. São eles:
Resposta: Claro! Muita gente crê que esse conceito diz respeito apenas à tecnologia. Porém, acredito que é mais amplo. Uma cidade inteligente é aquela que tem questões como saneamento, mobilidade e gestão resolvidas. É o município que consegue utilizar seus recursos da melhor maneira possível.
Atualmente, o conceito, também, se refere ao digital, especialmente, ao controle. Ter informações em real time, para contornar um problema. Para mim, é o mix dessas duas coisas.
Resposta: Bom, hoje estamos reunidos virtualmente, mas, caso esta entrevista ocorresse há um ano, estaríamos em uma sala de reuniões, com um gravador no celular. Isso já é uma mudança muito grande! O modo de vida está se transformando bastante e a arquitetura precisa ir se adequando. Os locais de trabalho, certamente, não serão os mesmos a partir da pandemia.
Inclusive, várias corporações gigantescas já anunciaram que não voltarão com seu efetivo total. O home office será inserido na cultura. Dessa forma, muitas empresas estão incentivando os colaboradores, por meio de bônus para investimento em equipamentos melhores, internet mais veloz, mobílias etc. Atualmente, o arquiteto ao desenvolver um projeto, já precisa mostrar uma área para o serviço remoto, para reuniões nos edifícios residenciais, entre outras soluções.
A partir dessa nova realidade, a sociedade começa a se preocupar mais com o espaço. Um apartamento de 3 quartos, passa a ter 2 dormitórios e um escritório, por exemplo. Estamos vivendo, em doze meses, uma mudança que levaria de 5 a 10 anos. Então, claro, não nos encontramos totalmente preparados.
Dessa maneira, vejo que muita coisa ainda vai mudar. Porque isso é natural na sociedade, na cultura e nos ambientes.
Resposta: Acredito que a primeira coisa a ser feita é uma campanha de conscientização. Você pensa que nunca vai passar por uma situação de incêndio, que é algo distante, mas o acidente acontece. Também, acho que a regulação e a vistoria deveriam ser maiores. Claro que os Bombeiros são bastante críticos quanto aos procedimentos, mas, atualmente, não há muita regra para residência. Somente para a segurança de edificações.
Porém, já vejo muita melhoria. Atualmente, para arquitetura há normas de desempenho, materiais resistentes ao fogo e muito mais. Só necessitamos ter mais fiscalização. Mas volto a dizer que é preciso informar. Multas resolvem, entretanto, a população tem a necessidade de entender os riscos, vantagens e custo-benefício de se ter cuidado contra incêndio. E essa conscientização tem que ser em toda a cadeia, desde o construtor, arquiteto até a população.
Respostas: Creio que o momento de pandemia que estamos vivendo serve, também, para reflexão. Muita gente diz que é a era voltada “para casa”. Porém, como seres humanos, precisamos andar, ter relacionamentos com outras pessoas. Então, vemos que o espaço público é muito importante! Podemos analisar como esses ambientes impactam nossa vida.
Já sobre outras questões, precisamos ter consciência de que é uma mudança que veio para ficar! Temos que lutar pela nossa privacidade, claro, mas, na questão coletiva, estaremos mais monitorados a cada dia. Então, devemos aprender a conviver com isso e tirar o lado bom dessa transformação.
Há 10 anos, eu invejava quem poderia trabalhar de qualquer lugar, apenas com um computador. Hoje, vivo isso! Então, o que devemos fazer é filtrar o ruim e aproveitar o bom. Assim, construiremos cidades mais qualificadas. Toda a mudança veio para ficar e vai evoluir. O mundo estará rodando e as coisas acontecendo.
* Sobre o entrevistado:
João Pedro Backheuser é arquiteto e fundador da B|AC Arquitetura. Mestre em Arquitetura e Desenho Urbano pela Universidade Columbia (NY/2000), onde recebeu Prêmio de Excelência em Projeto pelo conjunto de trabalhos apresentados.