03/03/2021 Por Skop / 0 comentários Favorito

Impactos do crescimento do Home Office nos escritórios, nos espaços de Coworking e nas arquiteturas/mobilidade urbana

Seja bem-vindo(a) à série de artigos no site da Skop. São entrevistas com pessoas especialistas em diversos assuntos, para abordarmos, com mais eficiência, questões importantes para o nosso dia a dia.  

Neste primeiro bate-papo, conversamos com o arquiteto João Pedro Backheuser*, fundador da B|AC Arquitetura. Discutimos sobre o impacto do crescimento do home office nos escritórios, coworkings e na arquitetura urbana. Continue a leitura para conferir! 

1. Como a arquitetura urbana acompanha as mudanças da sociedade?

Resposta: Primeiramente, a arquitetura, não só a urbana, vêm se transformando o tempo todo. Assim como a sociedade! As cidades, na verdade, são projetos inacabados que estão sempre se construindo e reconstruindo. Por exemplo, quando visitamos uma localidade antiga, vemos ruelas e becos, porque as pessoas só andavam a pé. Depois, os cidadãos começaram a se transportar a cavalo, de carro, e as ruas foram se adaptando. Isso é um processo contínuo.  

Agora, estamos na era do digital e, certamente, isso já está remodelando o desenho urbano, de moradia, de trabalho, lazer, entre outros. 

2. Na sua opinião, então, existirá algum impacto dos avanços tecnológicos (Big Data, 5g, 4ª Revolução Industrial) na arquitetura urbana?

Resposta: Bom, não sou um especialista em tecnologia, mas, como falei, vejo muita ação que possibilita uma melhor gestão de cidades, principalmente, em torno de controle e privacidade. Tanto que, a coleção de dados, da velocidade da informação, do real time, permite, inclusive, um entendimento sobre os hábitos da população. 

Com as inovações, é possível compreender melhor o fluxo de indivíduos, do dinheiro, dos carros. Lembro de um projeto meu, o Boulevard Olímpico, no Rio de Janeiro, criado para as Olimpíadas de 2016. Na inauguração, o espaço ficou lotado! Foi divulgado que passaram por lá mais de 1,5 milhões de pessoas. E essa leitura era feita por meio do IP dos celulares de quem visitava o local.  

Então, vejo que todos os recursos tecnológicos ajudam a gerir melhor os municípios. Por esses dados, é possível entender a mobilidade, destinar recursos para um ou outro setor. Tudo isso, também, é reflexo das mudanças em como estamos nos relacionando. Hoje, tudo é nas telas, no digital. A cidade, nada mais é que um espaço para relacionamento, onde você encontra outros cidadãos, troca informações e experiências. Então, sim! Haverá um impacto bem grande.  

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3. Com a tendência de aumento da população nas grandes cidades, quais seriam, na sua opinião, os maiores desafios que enfrentaremos nos próximos anos e décadas?

Resposta: São muitos, mas, vejo 3 pontos como os mais importantes. São eles: 

  1. Mobilidade: tenho essa como uma das maiores dificuldades dos municípios. Como uma pessoa vai de um ponto a outro, sem que isso se torne um transtorno? Não é à toa que a gestão de cidades leva muito em consideração pesquisas sobre transportes. 
  2. Saneamento: principalmente no Brasil e em países de terceiro mundo, esse é um ponto indispensável. Um local que cresce rapidamente, causa um impacto no meio ambiente. Além disso, há lugares com melhores condições, que jogam seus resíduos em lagos, rios e praias, também. E tudo isso não é só questão de limpeza, mas de saúde pública.  
  3. Gestão: é preciso ter uma boa administração pública. Como se pode gerir um município tão grande, com tanta gente, tantos interesses e demandas? É necessário investir na inteligência das cidades.  

4. Você poderia explicar um pouco o conceito de cidade inteligente?

Resposta: Claro! Muita gente crê que esse conceito diz respeito apenas à tecnologia. Porém, acredito que é mais amplo. Uma cidade inteligente é aquela que tem questões como saneamento, mobilidade e gestão resolvidas. É o município que consegue utilizar seus recursos da melhor maneira possível.  

Atualmente, o conceito, também, se refere ao digital, especialmente, ao controle. Ter informações em real time, para contornar um problema. Para mim, é o mix dessas duas coisas. 

5. Com as possíveis mudanças na forma como executamos os trabalhos, existe uma perspectiva de aumento dos profissionais na prestação de serviços. Diante disso, como você vê o papel da arquitetura na solução dos possíveis problemas gerados por essa nova realidade?

Resposta: Bom, hoje estamos reunidos virtualmente, mas, caso esta entrevista ocorresse há um ano, estaríamos em uma sala de reuniões, com um gravador no celular. Isso já é uma mudança muito grande! O modo de vida está se transformando bastante e a arquitetura precisa ir se adequando. Os locais de trabalho, certamente, não serão os mesmos a partir da pandemia.  

Inclusive, várias corporações gigantescas já anunciaram que não voltarão com seu efetivo total. O home office será inserido na cultura. Dessa forma, muitas empresas estão incentivando os colaboradores, por meio de bônus para investimento em equipamentos melhores, internet mais veloz, mobílias etc. Atualmente, o arquiteto ao desenvolver um projeto, já precisa mostrar uma área para o serviço remoto, para reuniões nos edifícios residenciais, entre outras soluções. 

A partir dessa nova realidade, a sociedade começa a se preocupar mais com o espaço. Um apartamento de 3 quartos, passa a ter 2 dormitórios e um escritório, por exemplo. Estamos vivendo, em doze meses, uma mudança que levaria de 5 a 10 anos. Então, claro, não nos encontramos totalmente preparados.  

Dessa maneira, vejo que muita coisa ainda vai mudar. Porque isso é natural na sociedade, na cultura e nos ambientes.  

6. A pandemia aumentou, ainda mais, a quantidade de pessoas trabalhando em home office. Na prática, esse processo transfere cargas dos escritórios para as residências, com o uso de ar-condicionado, computadores etc. Nos EUA, existe um mercado consolidado de proteção às residências contra incêndios. Mas essa, ainda, é uma realidade ainda distante dos brasileiros. Frente a esse cenário, na sua opinião, quais seriam as preocupações que se devem considerar no Brasil?

RespostaAcredito que a primeira coisa a ser feita é uma campanha de conscientização. Você pensa que nunca vai passar por uma situação de incêndio, que é algo distante, mas o acidente acontece. Também, acho que a regulação e a vistoria deveriam ser maiores. Claro que os Bombeiros são bastante críticos quanto aos procedimentos, mas, atualmente, não há muita regra para residência. Somente para a segurança de edificações 

Porém, já vejo muita melhoria. Atualmente, para arquitetura há normas de desempenho, materiais resistentes ao fogo e muito mais. Só necessitamos ter mais fiscalização. Mas volto a dizer que é preciso informar. Multas resolvem, entretanto, a população tem a necessidade de entender os riscos, vantagens e custo-benefício de se ter cuidado contra incêndio. E essa conscientização tem que ser em toda a cadeia, desde o construtor, arquiteto até a população.  

7. Na Skop, temos alguns canais de comunicação, por onde compartilhamos informações importantes com nossos leitores. Você gostaria de deixar algum recado ou dica a mais?

Respostas: Creio que o momento de pandemia que estamos vivendo serve, também, para reflexão. Muita gente diz que é a era voltada “para casa”. Porém, como seres humanos, precisamos andar, ter relacionamentos com outras pessoas. Então, vemos que o espaço público é muito importante! Podemos analisar como esses ambientes impactam nossa vida.  

Já sobre outras questões, precisamos ter consciência de que é uma mudança que veio para ficar! Temos que lutar pela nossa privacidade, claro, mas, na questão coletiva, estaremos mais monitorados a cada dia. Então, devemos aprender a conviver com isso e tirar o lado bom dessa transformação 

Há 10 anos, eu invejava quem poderia trabalhar de qualquer lugar, apenas com um computador. Hoje, vivo isso! Então, o que devemos fazer é filtrar o ruim e aproveitar o bom. Assim, construiremos cidades mais qualificadas. Toda a mudança veio para ficar e vai evoluir. O mundo estará rodando e as coisas acontecendo.  

* Sobre o entrevistado: 

João Pedro Backheuser é arquiteto e fundador da B|AC Arquitetura. Mestre em Arquitetura e Desenho Urbano pela Universidade Columbia (NY/2000), onde recebeu Prêmio de Excelência em Projeto pelo conjunto de trabalhos apresentados. 

  • Especialista em Arquitetura Brasileira pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (Recife/1997). 
  • Arquiteto Urbanista pela Universidade Santa Úrsula (RJ/1994). 
  • Atuou como Professor de Projeto de Arquitetura na Universidade Santa Úrsula (2001) e de Projeto de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Estácio de Sá (2001 a 2006). 
  • Especialização em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas e Gestão de Projetos e pela Fundação COPPEAD. 
  • Foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura com o livro “Sergio Bernardes” (orgs. Kykah Bernardes e Lauro Cavalcanti), do qual participou como autor do artigo “Estruturas que se lançam no espaço”. 
  • Foi membro do Conselho Deliberativo do IAB-RJ (2010/11). 
  • Diretor Presidente do Laboratório de Projetos Studio X – Rio da Universidade Columbia (NY). 
  • Membro suplente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo – Departamento Rio de Janeiro.   
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